quinta-feira, 6 de maio de 2010

Mãe coragem: MEU FILHO NÃO ERA UM BANDIDO!


Márcia e Isabel, uma brasileira e a outra mexicana, perderam os filhos em crimes brutais. Ao ver que as autoridades cruzavam os braços, investigaram por conta própria, reuniram provas e foram atrás de justiça

A morte do estudante Hanry Siqueira e do empresário Hugo Wallace poderia representar apenas mais dois corpos nas estatísticas da violência urbana – não fosse a coragem da ex-vendedora fluminense Márcia Jacintho, 36 anos, e da pedagoga mexicana Isabel Wallace, 59 anos, que se recusaram a aceitar o arquivamento dos casos. Hanry, filho de Márcia, tinha 16 anos em dezembro de 2002, quando foi assassinado por PMs no morro do Gambá, favela do Rio de Janeiro. Na versão da Polícia Militar, o garoto teria sido morto numa troca de tiros. Márcia levou a perícia ao local, localizou testemunhas, estudou direito e fez com que o 3o Tribunal do Júri confirmasse as suas investigações. No dia 3 de setembro deste ano, o PM Marcos Alves foi condenado a nove anos de prisão por homicídio e fraude. O PM Paulo Paschuini pegou pena de três anos por simular a apreensão de arma e drogas com Hanry.

Na Cidade do México, em 2005, Isabel foi abordada por seqüestradores, que exigiram 950 mil pesos para devolver seu filho, Hugo. O líder da quadrilha era Cesar Freyre, agente da polícia judicial mexicana. Sem o empenho das autoridades, Isabel resolveu investigar por conta própria e ajudou a banda correta da polícia a prender cinco dos seis bandidos, incluindo o chefão. Como parte da luta, fundou a ONG Associación contra el Secuestro para colaborar com outras famílias, já que o México é o campeão mundial de casos de seqüestro – 789 só em 2007. A pedagoga sofreu muitas ameaças e um atentado, no qual teve o carro fuzilado.

A ação dessas mães não deve ser vista como um incentivo para o cidadão ocupar o lugar do Estado, a quem cabe apurar e julgar. O que chama a atenção é que elas não fizeram justiça com as próprias mãos, tornando públicas suas aflições e descobertas, mobilizando apoiadores e a imprensa em torno do surgimento da verdade. Ainda cobraram o tempo todo que as autoridades cumprissem seu papel. Uma frase de Isabel resume tudo: “É preciso haver mudanças, elas, porém, não acontecerão sem nós”.

Por Iracy Paulina
Revista Claudia - 11/2008

http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/atitude/conteudo_402992.shtml

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