“O alto consumo de papel e a maior parte sendo produzida
com métodos insustentáveis está entre as atividades humanas mais impactantes do
planeta. O consumo mundial de papel cresceu mais de seis vezes desde a metade
do século XX, segundo dados do Worldwatch Institute, podendo chegar a mais de
300 kg per capita ao ano em alguns países.” (Ferraz, 2009)
A matéria-prima básica da indústria do papel, a
celulose, é um material fibroso encontrado na madeira e nos vegetais em geral.Durante
sua fabricação, a madeira é descascada e picada em lascas denominadas cavacos. Posteriormente é cozida com produtos
químicos, para separar a celulose da lignina e demais componentes vegetais. O
líquido resultante do cozimento, é
conhecido como Licor Negro, que é armazenado em lagoas de decantação, onde
recebe tratamento antes de retornar aos corpos d'água.
Mesmo após o tratamento de efluentes na fábrica, as
dioxinas permanecem e são lançadas nos rios, contaminando a água, o solo e
conseqüentemente a vegetação e os animais (inclusive os que são usados para
consumo humano). No organismo dos animais e do homem, as dioxinas têm efeito
cumulativo, ou seja, não são eliminadas e vão se armazenando nos tecidos
gordurosos do corpo.
Posteriormente é realizado o branqueamento da celulose, num processo que
envolve várias lavagens para retirar impurezas e clarear a pasta que será usada
para fazer o papel.
“Até pouco tempo, o branqueamento era feito com
cloro elementar, que foi substituído pelo dióxido de cloro para minimizar a
formação de dioxinas (compostos organoclorados resultantes da associação de
matéria orgânica e cloro). Embora essa mudança tenha ajudado a reduzir a
contaminação, ela não elimina completamente as dioxinas. Esses compostos,
classificados pela EPA, a agência ambiental norte-americana, como o mais
potente cancerígeno já testado em laboratórios, também estão associados a
várias doenças do sistema endócrino, reprodutivo, nervoso e imunológico.” (FERRAZ,
2009).
Enquanto a Europa já aboliu completamente o cloro da fabricação do papel,
realizando o branqueamento com oxigênio, peróxido de hidrogênio e ozônio,
processo conhecido como total chlorine free (TCF), nos Estados Unidos e no
Brasil, e em favor de interesses da indústria do cloro, o dióxido de cloro
continua sendo usado.
Temos que repensar nossos hábitos de consumo!
“No
Brasil apenas 37% do papel produzido vai para a reciclagem. De todo o papel
reciclado, 80% é destinado à confecção de embalagens, 18% para papéis sanitários
e apenas 2% para impressão.” FERRAZ, 2009.
Porém não podemos esquecer que a reciclagem também é uma indústria que
consome energia e polui. Por isso, se o que almejamos é uma produção
sustentável, capaz de garantir os recursos naturais necessários para a atual e
as futuras gerações, o melhor a fazer é reduzir o consumo e começar a exigir
que as empresas se comprometam a adotar medidas mais eficazes de combate à
poluição resultante de seus processos produtivos, a contaminação e o esgotamento dos recursos naturais.
FERRAZ,
José
Maria Gusman - Doutor em Ecologia,
pesquisador da Embrapa Meio Ambiente. O papel nosso de cada dia. 2009.